quinta-feira, dezembro 25, 2008

Natal de quê?






Natal de quê? De quem?

Daqueles que o não têm?

Dos que não são cristãos?

Ou de quem traz às costas

As cinzas de milhões?

Natal de paz agora

Nesta terra de sangue?

Natal de liberdade

Num mundo de oprimidos?

Natal de uma justiça

Roubada sempre a todos?

Natal de ser-se igual

Em ser-se concebido,

Em de um ventre nascer-se,

Em por de amor sofrer-se,

Em de morte morrer-se,

E de ser-se esquecido?

Natal de caridade,

Quando a fome ainda mata?

Natal de qual esperança

Num mundo todo bombas?

Natal de honesta fé,

Com gente que é traição,

Vil ódio, mesquinhez,

E até Natal de amor?

Natal de quê? De quem?

Daqueles que o não têm?

Ou dos que olhando ao longe

Sonham de humana vida

Um mundo que não há?

Ou dos que se torturam

E torturados são

Na crença de que os homens

Devem estender-se a mão?



Jorge de Sena

domingo, outubro 12, 2008

outono!




chegaste

com a agressividade do vento.

as árvores sentiram-te,

abanaram

como a dizer adeus ao verão

que findou.

os pássaros partiram,

perdeu-se o sorrir das flores.

no chão resplandece o amarelo oiro

mas o rasto que trazes contigo

é saudoso, bafiento e árduo


o homem não te reconhece

julga-te o fardo do dia,

arrastando a morte

em cada passo,

e, na surdida da noite

celebras a nostalgia.


as portas vestem-se

de sono,

empurram a visão

de um tempo destruído.


os rostos são imagens

cerradas sem fulcros

nas paisagem enredadas do outono


despidas de folhas,

só as magnólias circulam ofuscantes.




l.maltez




domingo, agosto 31, 2008

maçã verde




dentro da noite dos parágrafos espelhados, rolou a maçã verde.

esburacada, era surda ao terror dos falsos sinais.

cada espaço oco da maçã verde, era uma casa indivisível, sem brisa nas manhãs solarengas.

os corpos, habitavam o centro do tempo que os alimentava.

à solta borboletas davam vida, com cores salteadas pelo embrião da sede dos desejos.

ali habitava a menina dos restinhos pendurados em pratos de pele espessa. era uma menina transparente, sem ossos, olhos de peixes lesados.


outras meninas viviam nos alvéolos da maçã verde.

uma menina vestida de mar, com mantas de nuvens ou a menina vestida de meio sol e meia lua .

muitas outras meninas e meninos de saberes nutridos, conviviam na verde maçã, tinham vestes de sois doirados e de fases de luas, ou até de corais e estrelas semeados pelos seus corpos nus.


todos jogavam aos sentires, enquanto as gaivotas esvoaçavam em dançares delicados, como de mulheres esculpidas em areia.

só sabiam multiplicar as imagens dentro de uma nudez sublime.

na areia molhada da maçã verde, onde o mar era o tempo presente, os dias eram palco de convívio. crescia-se imaginando cenários de vida

nos sonhos, todos caminhavam em gestos silenciosos .

lavravam o corpo com as mãos e semeavam a flor da fertilidade com palavras assentes no insólito.


as noites eram prazeres saciados em histórias de inventar, contadas ao ar livre, sobre um luar ilusório

misturavam-se as partilhas, em olhares exigentes e em vozes roucas mas intensas. davam o sentido de um espaço de ternura.

foram dias passados entre aventuras, onde as perguntas tinham a respostas de desejos concluídos. germinaram sonhos de arte, redescobertos nas palavras inesgotáveis.


a maçã verde deixou de rolar. ficou na praia, onde o mar lhe acariciava os pés

os meninos voltaram aos seus lugares, sem as vestes ilusórias…





l.maltez





sábado, julho 19, 2008

sem sumo!



a cidade era uma laranja cinzenta, seca, sem sumo e extenuada dos anos as cores agarraram o dia, cheio de imperfeições. não havia caminhos traçados, nem trilhos calcados. era o vazio que habitava o dia da laranja com cores .

os silêncios escutavam-se nas esquinas das casas desbragadas e preciosamente dormiam na poeira dos talentos

na rua já não brincavam as meninas,

o tempo passou por uma, mas ela não soube passar o tempo.

vivia na teimosia de uma vaidade sem prazos.

foi um outono de hábitos despida e um inverno de alma gelada.

entrou ao lado da primavera mas nem as flores brilharam,.

a menina da cidade de laranja quis ser verão com sabor a mar, mas nem o verão, nem o mar quiseram a menina das manias tresloucadas.

a outra menina partiu, foi viver a doçura da vida, na cidade sumarenta de sensações.


na cidade sem sumo o ar falava numa página de amor, o único esforço de vida de um tempo..

flutuavam gritos a ciprestais num remexer estonteado de olhares de seres vegetativos

as palavras que ainda tinham vida, recordavam genuínos sentires de figuras prestigiosas, eram os amores das páginas colocadas no ser

secretos continuavam os olhares, queimavam e rescindiam o poder das cores agarradas à cidade seca.

a morte espreitava, andava à solta. queria a amiga da menina tresloucada

uniram-se as palavras, transfiguraram as alucinações em energia. os olhares conceberam corpo. luziram as cores. as mãos moldaram o esforço dos espaços diurnos e as pedras formaram o friso no princípio da razão

a menina da cidade sumarenta cresceu, é mulher perfeita em sensibilidades, da sua janela fértil nascem palavras que fazem sorver amor

a cidade agora vive, fora da outra vida, inunde nomes rasgados de um ventre ligados à lua e ao sol



l.maltez

quarta-feira, julho 02, 2008

tango!



aconteceu o tango
assim na paixão
do desejo de dois corpos entrelaçados.
na sensualidade de um passo,
num brilho sedutor do olhar
a melodia que movimenta
é sedução.

o corpo é só um
numa cadência harmoniosa.
os passos são anseio
dobrados ao som melódico.
os braços ladeiam em sensuais carícias
num encanto embriagado
em ardor de minutos


é a dança da vida
na loucura da entrega.
ferve o sangue no corpo
dos murmúrios eloquentes.
prende-se a alma e o coração.
o gemido é de paixão
em aromas sedutores.

um dançar único na sentida melodia
é êxtase do amor !


helena maltez



sexta-feira, junho 20, 2008

a palavra




cresce a palavra
na leitura dos dias,
caminha dentro do livro
e
toca-nos.
num tempo ajustado
marca sinais.

neste engenho a leitura
é fonte inesgotável,
prazer saciado
fascínio e compromisso,
diálogo incessante
na plenitude
da imaginação.

serenas, as palavras
rebentam
em pedaços de sabores
suaves.
fecundam teias
tecidas de saber.

vestem-se palavras
de várias emoções.
dão à leitura
a delícia do instante
em traços rasgados
dos contos de encantar.

pousa um verso que se tece
no estandarte das imagens.
o gesto, é um equilíbrio sonoro
das letras e sílabas de quem o lê.



l.maltez

terça-feira, junho 10, 2008

rios


das tuas mãos rebentaram o barquito,

o barquito de papel..

querias alegrar o dia

e dentro de sorrisos autênticos

foi maravilhoso sonhar



navegamos juntos

na pequena embarcação

não no mar, mas entre rios transparentes.

as minhas mãos foram tuas

nas carícias do anseio



foram rios de uma vida

navegados por nós nas certezas.

saciamos a placidez

daquelas águas tão doces

de um verde prata colorido.



o barquito seguía um rumo,

sabia onde levar-nos.

o sonho era concepção

dos rios que sentiam nosso olhar

entre paisagens sem tempo.



no silêncio do teu desenho acordei

e os rios foram corpo em movimento




helena maltez





estas palavras foram ditas nas Noites de Poesia em Vermoim de 7 de Junho de 2008 http://movimentum-blogando.blogspot.com/ na voz de um amigo José Gomes, que agradeço com amizade


sábado, maio 17, 2008

palavras com som amigo!

a cabana é de palavras, construída sobre o mar.

não tem portas nem janelas, isso faz com que não se consiga fechar.

o vento, esse é seu protector ela é feita de palavras, palavras de todos vós que adoro. as mais amargas ele consegue arrasta-las…

e a cabana não se desmorona!

por não saber ser ausência venho e abraço todos, com um enlaço do tamanho do mar que me alimenta a alma. a cabana é cada um de vós




é o vento que conversa

nos astrais rudes da tua voz.



o perfil é terra sem alma.



acuras as esperanças

inflamam-se em labirintos.



o abismo é ensejo

no sorriso da ironia



um nome estranho demove o grito

saído das costas coagidas.



puro é o espaço úbere

no silencioso vulto

que louco repete

supostas virtudes



o espanto é figura na voz

de rostos sem nomes

coroados de leveza



ermo na noite, o vento irrompe

e é o impulsor do corpo!



l.maltez






sábado, abril 05, 2008

solidão?




foi a solidão que entrou no silêncio.

tinhas asas de borboleta

um corpo delineado de mulher,

dedos parados

em espaços luminosos.


o tacto era o sinal,

transformado em ritmo

de vaporosas borboletas

na leveza de um irradiante reflexo

suspenso na explosão da liberdade.


um leque de artérias

moldou a primavera.

no jardim, gira a dança das labaredas.

descontinuas as vozes

expulsão o silêncio vadio.


a liberdade agita o corpo

na sensível trama das emoções.

a força vem de dentro

onde o sangue queima,

fendido na chaga da fala


a solidão é mulher em asas de borboleta




l.maltez

sexta-feira, março 21, 2008

pura poesia!




escultura de um tu

feita mulher

em corpo firme,

consumido em rocha


talismã da esperança.

presença marcante

pintada da tela do amor,

numa dulcidão de sentimentos.


interior fresco

sem sombras.

num respirar de saudade

é silhueta embriagante de mistérios


rasgada, para se fazer sentir

é pura poesia!




l.maltez

domingo, março 09, 2008

emoções!




fio a fio

saltam das mãos,

mistérios ressurrectos.




há voracidade

no avesso do desejo


luzente a imagem

fixa raios num rosto


busca emoções

filtradas no centro

das raízes de pressões.


pulsa a água,

exalta a brisa,


lenta, mas deslumbrada

passa a onda num olhar.


espaço de vento

onde surge esbracejado

o sentimento íngreme

de árduas emoções


num corpo a noite

e apenas uma visão




l.maltez

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

despidas




despidas, mas sempre belas!



simples, crescem pausadamente

adornadas de flores que darão frutos.

vestem-se de verde esperança

e nas suas folhas nascem pássaros

que cantam entre as manhãs e as árvores

onde vorazes se guardam os dias.



efémera a voz rasga por dentro

deixam desabar a resina,

e gritam à chuva negra,

o lamento de um amor irrecuperável

nas folhas que juncam o chão,

amarelecidas nos gemidos dos ventos.



olho-as na serenidade fria do dia

maravilhada vejo-as despidas

despidas, mas sempre belas!




l.maltez





nas Noite de Poesia em Vermoim, do dia 3 de Novembro de 2007 , o Zé Gomes teve a gentileza de dizer palavras por mim escritas a brincar.
Obrigada Zé Gomes, participar nas Noite de Poesia em Vermoim é um prazer, uma alegria enorme e estar um dia presente é o meu maior desejo

domingo, fevereiro 03, 2008

recomeçar





a névoa abraçou a madrugada

sentada ao lado do mar.

os instantes foram brancos

no abatido silêncio,

a sombra confundiu-se.

deslizou sobre o manto do abismo

com cheiro a sonhos queimados


homens circulam na quimera da cidade.

embarcam nos dias caiados de sol

vertiginosos nos hábitos.

nas mãos levam o ruído

de uma música perecível

e ficam prisioneiros

na claridade das ondas do mar revolto


exaustos da névoa

chamam as manhãs,

fedendo o ar

no crepitar

fulgor do sémen.


recomeça sereno

o voo do pássaro madrugador




l.maltez

sábado, janeiro 12, 2008

fontes





nascem inseguras as fontes

quebra-se a auréola nas rochas.

crescem no tecer dum tempo

sobre um lençol fecundo,

do cheiro da terra mãe.


fontes de vida, de sinal sentido

aroma que tinge obstáculos

dissolvidos na luz,

espanto e beleza juntos

no intimo dum útero casto.


tranquilas rebentam

como gargalhadas cristalinas,

no polígono uniforme.

insustentável é um quase nada

dentro do mistério da natureza.


alimentam com suas gotas suaves

o pedaço sabor da esperança.

sem pedir, nos rochedos da sedução,

beijam lábios recônditos

sem medo do brilho que dura


fonte de fontes que nascem de versos

saciam a sede no ventre afluente!



l.maltez



  o teu sorriso no esplendor de uma suave explosão chega a mim o teu sorriso. aflui com emoção e calor, como sonhos mesclados nos en...